Os macacos, a caixa e não interessa quem mais

Maio, 2006

Um milhão de minúsculos macacos dançam de mãos dadas ao redor de uma pequena caixa. Uma imensamente pequena caixa que em seu interior esconde algo que treme em desespero. Algo, alguma coisa, qualquer coisa, quem há de se importar, a tremer desesperado, desesperadamente, a desesperar-se. Ele ama ela. “Não, nem pense, não vamos a isso voltar.” Sim, vamos. “Não, não vamos.” Você não tem a mínima idéia, não? “Do que?” Não você, você. Sim, você. Ela não é ela. Ela é ela. Sim, ela é ela. E isso é tão óbvio, há tanto tempo, que nem pôde ser notado, nem por ele. Corre, corre, o relógio; corre, corre, para dentro; corre, corre, a implorar. Mas, do que isso importa, já que lá vem o palhaço a cambalear com seus grandes sapatos, a sentar confortavelmente sobre a caixa, a observar, com seu sorriso púrpura, os dançantes minúsculos macacos, que cantarolam sobre os dias não passados ao lado dela. De novo, de novo, de novo. Sim, mais uma vez, uma milésima vez. “Não, não, não, não me encontro a cair mais uma vez pelo poço sem topo. Não é obvio? Nunca hei de tê-lo deixado. Só é o controle que mais uma vez se vai. Só é a loucura que mais uma vez presente se faz.” Loucura, obsessão, conspiração. Dancem, dancem, minúsculos macacos, apertem suas mãos e todos juntos, dancem ao redor da caixa. Conte-nos uma piada, pois não é esta a sua função. “Sofro, sofro, sofro, e esta é a piada, esta é a maior das piadas. Não é engraçada?” Confusão, obsessão, conspiração. O que fazer? O que não fazer? “O que quer?” Sim, o que quer? “Não sei” O que queres? “Quero conhecê-lo!” E ele está presente para ser conhecido? “Não sei.” Mas, se ele não se conhece, como pode ele amar ela? “Porque todos amam ela e nada a isso poderá mudar.” Todos amam ela. E ela? “E ela?” Vejo lágrimas. “Vês?” Não sei. Vejo uma caixa. Tão pequena, com tão pouco espaço, com tão pouco ar. Será confortável? “É ótima para sentar!” Mas o que nela treme? “Isso aos macacos há de perguntar!” Dancem, dancem, minúsculos macacos, mãos dadas, dedos entrelaçados, olhos abertos, sorrisos dentários; girem, girem, a cantarolar sobre o ontem que não é por nunca poder ser. “Aqui é tão escuro” Mas é muito mais na caixa. “E mesmo assim ação não há para dela sair.” Mas há ruídos! “Ruídos constroem, mas ação não tomam.” Dancem, dancem, minúsculos macacos, um passo para frente, um passo para trás, dois passos para o lado; avancem, avancem, ao redor da caixa, para ao mesmo lugar voltarem. São as mãos dadas que ao mesmo lugar forçam? “Mas sozinhos não seriam ninguém!” Sozinho está o dentro da caixa. “Sozinho estou eu!” Sozinhos estariam perdidos. “Mas de mãos dadas, a girar, não estão a avançar.” Um milhão não pode ser, melhor seria um. “Mas de novo, um sozinho de nada adianta!” Ele ama ela. “Voltamos ao início.” Que engraçado! “Um giro completo, a girar pelos muitos mais que estão a vir.” Ele quer dançar em linha reta. “E que isso me importa?” Ele quer uma caixa ainda menor e sem ar. “E que isso me importa?” Ele quer que as lágrimas parem de borrar seu sorriso púrpura. “E o urso?” Pergunte ao macaco.

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